domingo, 30 de setembro de 2012

Inhotim


Galeria Adriana Varejão


A Galeria Adriana Varejão, inaugurada em março de 2008, é um espaço concebido para receber as obras da artista, que participou da conceituação do projeto arquitetônico. O edifício, de autoria do arquiteto paulistano Rodrigo Cerviño Lopez, tem 477m² e cria um percurso que começa num caminho por entre um espelho d'água e, depois do primeiro pavimento, culmina numa grande praça elevada. Através desse terraço, uma ponte serve de acesso a uma área de expansão de Inhotim, a área do novo lago.


Panacea Phantastica (2003-2007)


Iniciando o percurso, está Panacea phantastica, um conjunto de azulejos que tem retratados 50 tipos de plantas alucinógenas de diversas partes do mundo. Concebida como um múltiplo que pode se adaptar a qualquer arquitetura, a obra aqui se transformou num banco na entrada do pavilhão, um espaço de contemplação e convívio. Num dos azulejos, um texto sugere a relação entre os efeitos alucinógenos das plantas e mudanças na percepção que podem ser provocadas também pela arte.


Linda do Rosário (2004)


Nos trabalhos recentes, a artista desenvolve ambientes virtuais geometrizados que remetem a açougues, botequins, saunas, piscinas e banheiros, em que retoma questões intrínsecas à pintura como profundidade, espaço e cor. Através da releitura de elementos visuais incorporados à cultura brasileira pela colonização, como a pintura de azulejos portugueses, ou a referência à crueza e agressividade da matéria nos trabalhos com “carne”, a artista discute relações paradoxais entre sensualidade e dor, violência e exuberância. No seu trabalho, difícil de classificar disciplinarmente, a carne, o sangue e, sobretudo a pele enquanto lugar que une ou divide interior e exterior, revelado e oculto, ganham com freqüência uma condição metafórica ou transformam-se em imagem forte de uma cultura que traz a violência e o sacrifício inscritos na matriz.

Talvez por isso, o seu horizonte estético seja o de uma beleza sanguínea, capaz de sobrepor erotismo, sublime e morte que, em vez de se apresentarem como elementos contraditórios, se tornam interdependentes. Existem rumores de historias que inspiraram a artista no feitio da obra Linda do Rosário, como o desabamento de um bordel numa favela onde um casal fazia amor, e a posterior mistura de carne e paredes.

O Colecionador (2008)



O colecionador é a maior pintura da série Saunas, e faz uso de uma palheta quase monocromática para criar um labirinto interior idealizado. Com seus jogos de luz e sombras, a pintura evoca espaços de prazer e sensualidade e reflete a arquitetura do pavilhão, propondo uma continuidade virtual do espaço.


Celacanto Provoca Maremoto (2004-2008)


A obra de Adriana Varejão promove uma articulação entre pintura, escultura e arquitetura, revisitando elementos e referências históricos e culturais. Especialmente criada para o espaço a partir de um painel original em apenas uma parede, a obra Celacanto provoca maremoto (2004-2008) vale-se do barroco e da azulejaria portuguesa como principais referências históricas, mas também da própria história colonial que une Portugal e Brasil: afinal de contas aqui estamos nos domínios do mar, o grande elemento de ligação entre velho e novo mundos no período das grandes navegações. Colocados nos painéis formando um grid, os azulejões fazem referência à maneira desordenada e casual com a qual são repostos os azulejos quebrados dos antigos painéis barrocos. Assim, o maremoto e as feições angelicais impressas nas pinturas formam esta calculada arquitetura do caos, com modulações cromáticas e compositivas, remetendo à cadência entre ritmo e melodia.


Carnívoras (2008)


O políptico toma como referência as pinturas de azulejo de figuras avulsas. Ao contrário dos grandes painéis, que na azulejaria tradicionalmente narram acontecimentos históricos, aqui cada azulejo representa uma figura isolada, em contraste com a narrativa épica de Celacanto provoca maremoto (2004-2008). Varejão escolheu representar as espécies Darlingtonia, Dionaea, Drosera, Heliamphora e Nepenthes, todas plantas carnívoras. Valendo-se de uma das modalidades mais consagradas da pintura in situ, a pintura de forro, a obra pode ser visualizada a partir do primeiro ou do segundo piso.

Passarinhos – de Inhotim a Demini (2003-2008)




A galeria termina no terraço: uma rampa-corredor em forma de “L” conduz à uma nova ascensão. Esta passagem quase ritualística dá no terraço com vista impressionante de Inhotim, onde se tem uma visão do alto de todo o espaço do museu.

Com vocação natural para mirante, percebe-se como as obras e as galerias se integram à paisagem, tornam-se invisíveis pois não se vê nada além de verde.

Neste terraço-mirante, um banco de azulejos em forma de “U” traz uma coleção de desenhos de uma centena de pássaros a partir de pesquisa e vivência de Adriana em uma tribo Yanomani.

Porém, nesse ponto, há um conflito entre a arte e a arquitetura no local, sendo que a função de mirante não é totalmente cumprida, uma vez que o banco impede que se chegue até a extremidade onde seria possível ver o espelho d'água que compõe a entrada da galeria.

Croqui da entrada da galeria




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